domingo, 10 de abril de 2011

Morar na lapa

O bêbado da rua grita "Escravo do sistema. Eu não sou um escravo do sistema!". Quero gritar de volta que ele é um escravo sistema, sim. Você, sr. bêbado da rua, é escravo do sistema. Eu sou escrava do sistema, o moço do trailer de hamburguer é escravo do sistema, a lapa é escrava do sistema, o sistema é escravo do sistema. É domingo, vinte e três horas e você está bêbado na lapa. Bêbado e sozinho. Bebendo porque não seguiu a engrenagem do sistema e saiu do trilho. Você acha que bebendo está fora do trilho, mas o sistema não dá trela, você tenta sair mas não consegue. Quando você bebe está na mão do sistema, ele continua a mandar em você. Sem o sistema você não consegue sua bebida e não consegue achar que está livre. O bêbado da rua é sempre um escravo do sistema. É domingo, vinte e três horas, e eu estou no computador escrevendo, achando que ao escrever sobre sua amargura estarei livre do sistema. No alto na minha canalhice, achando que por entender o sistema estou livre dele, mas o sistema não dá trela, eu tento sair mas não consigo. Se não tem sistema, não tem a indagação e a eterna luta contra ele. O sistema é o mal maior e inatingível. Eu odeio ele mas não sei viver sem ele. O sistema é viciante, é a nossa cachaça. Somos todos escravos do sistema. Somos todos bêbados da rua.

3 comentários:

  1. Desligo o computador, desço do meu apartamento e fico bêbada na rua com você.

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  2. pues, pues.
    já dizia caio fernando abreu.
    ou poderia ter dito.

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