quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

O fora

Todo mundo, do Tiririca ao Santoro, da Fernandona a Arósio, todo mundo mesmo, já levou um fora. Não vale o fora levado na noitada, na micareta, o olhar não correspondido no metrô. Todo mundo, ao menos uma vez na vida, vai levar um fora (ou mais) inesquecível.
O fora inesquecível marca mais pela maneira como foi dado do que pela pessoa que deu. É quando alguém possui você na mão, mas parece sentir graça ao olhar bem fundo nos seus olhos e dizer “não”. “O fora” fica marcado na nossa existência, permeando nossas próximas relações, e nos tornando mais cautelosos (ou não) nos assuntos do coração.
Soube de foras que foram dados por telefone, uma semana antes do casamento (eu juro!) e, nesses tempos modernosos em que vivemos, o fora pode chegar via sms ou uma mudança de relacionamento no facebook. Mas os foras que levamos são culpa, majoritariamente, nossa.
Analiso os foras da vida enquanto me debruço sobre o fora que acabei de ganhar. Tão moderno, esse veio via email. Me sinto tão ridícula que resolvo apagar todos os vestígios do fora, numa maneira de tentar tirá-lo da minha cabeça. Dessa vez não merece nem uma lágrima. Enquanto apago os emails, vou lembrando de tudo, desde a primeira vez que encontrei o mar nos seus olhos azuis... da primeira conversa... de todas as outras que se seguiram... quando percebi minhas mãos frias quando ficava ao lado dele... papos fora de hora... comentários que só a gente entendia... a vez que chamou pra sair... a vez que desmarcou... o grande dia... e tudo o que eu sonhei para nós dois.(Pra completar a cena cinematográfica, minha chefe está colocando velhas canções para ouvirmos nos últimos dias de trabalho do ano, a nostalgia tomou conta da sala da comunicação.)
Não sei por quanto tempo ainda vou lembrar de todos esses detalhes e todos os outros que inventei para essa relação que nunca existiu. Espero que eu esqueça logo. No momento em que recebi o email já sentia as péssimas vibrações presentes nele. Aprendi mais uma lição de vida ( a que todos nos falam, mas nem sempre acreditamos): Tudo na vida passa.
Com o coração doendo, abro a lixeira e vejo todos os emails, lidos e relidos, infinitamente. Repito mentalmente a frase clássica (Vai passar!) e clico na opção “deletar todos os emails da lixeira”. O computador, como um psicólogo, me pergunta: Tem certeza que deseja deletar todos os emails? Tenho, sr. Computador. Vai por mim, é melhor fazer isso de uma vez. E fim. O fora foi embora, só falta sair de dentro de mim.

Deu, tá dado. Noves fora, eu supero mais essa.